Somente nos dois primeiros meses de 2018, 1.130 pessoas tiveram seus veículos roubados ou furtados na Bahia, segundo levantamento da Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA). O número gera um aumento na procura por seguros automobilísticos, mas com a crise financeira, os baianos estão buscando alternativas mais baratas para tentar preservar um bem material. O problema é que, a economia, na maioria das vezes, sai caro.
Na busca por algo mais em conta, muitos motoristas acabam recorrendo às cooperativas de seguro, o que, segundo o Sindicato dos Corretores de Seguros da Bahia (Sincor-BA), é “um péssimo negócio”. “Você não tem nenhuma garantia que será indenizado quando precisar. No seguro você tem regras específicas, claras e brevemente estabelecidas. No caso de cooperativa, cada uma tem uma regra própria. [Problemas] acontecem com muita frequência aqui em Salvador”, explica o presidente da Sincor, Wanderson Gomes.
Na mira da Polícia Federal
Irregularidades similares levaram a Polícia Federal a realizar uma operação contra a Associação Brasileira de Benefícios, que comercializava seguros irregularmente há seis anos na cidade Barreiras, no oeste do estado. Segundo a PF, os consumidores que precisavam do serviço não eram atendidos. “Com isso, consegue vender o produto mais em conta. As pessoas não sabem que é ilegal e são lesadas. É arriscado”, contou o delegado Emerson Fonseca.
Preços de cooperativas são até R$ 500 mais baratos que em seguradoras…
O baixo preço é o principal atrativo na escolha de uma seguradora. Sem se identificar, uma fonte ouvida pelo Jornal da Metrópole assegurou que a diferença de valor chega a R$ 500. “Enquanto na cooperativa o seguro anual do meu carro saiu por R$ 1,2 mil, na seguradora formal o preço era de R$ 1,7 mil, isso depois de muito chorar para reduzir”, contou.
Mas segundo presidente do sindicato dos corretores, no final das contas, a economia pode gerar dor de cabeça. “Na cooperativa não há regulamentação. Você não tem a quem recorrer, é sócio”, explicou.
… mas lista de queixas aumenta a cada dia
Apesar de o Sincor não responder pelas cooperativas de seguro, muitos consumidores lesados procuram o sindicato para pedir ajuda. “Teve o caso de uma senhora que avançou um sinal e bateu em outro carro. Ela errou, mas não foi intencionalmente. A cooperativa se negou a arcar com os custos”, lembrou Wanderson, que citou ainda o caso de um cliente de cooperativa que, após ter problemas com o carro, recebeu a proposta de ressarcimento em 10 parcelas. “Um absurdo”, completou.
Mais de 190 denúncias em aberto
O Ministério Público da Bahia (MP-BA) afirmou que, até então, nenhuma investigação sobre a prática foi iniciada. De acordo com a Superintendência de Seguros Privados (Sunsep) e o Ministério Público Federal (MPF) recebem centenas de denúncias sobre o problema. “Hoje a Susep tem cerca de 190 ações civis públicas, nas quais ela é autora principal, abertas contra empresas que estão irregulares”, disse em nota.
Associação confirma risco: “Não descarto”
O Jornal da Metrópole entrou em contato com uma cooperativa criada em Minas Gerais que atua na Bahia. Questionado sobre o grande número de segurados que têm problema com o serviço, o corretor confirmou que “há um risco”.
“Pode acontecer de um ou mais segurado não pagar a mensalidade e esse valor não cobrir o conserto. Para as cooperativas que estão iniciando, com mil assegurados, caso aconteça de um carro de R$ 150 mil ter perda total, talvez aconteça de esse valor eles não conseguirem cobrir. Não descarto esse risco”, disse.
Fonte: Bárbara Silveira / Foto: Tácio Moreira/Metropress