Um médico atende um paciente portador de insuficiência respiratória. Examina, diagnostica, interna e aplica oxigênio. Prescreve um equipamento chamado CPAP, um aparelho portátil que promove a inalação de oxigênio para que o doente possa ir para casa. Com isso, considera que terminou o seu compromisso e cumpriu o seu papel. Será mesmo?
Um outro médico atende um paciente com o mesmo problema, seguindo o mesmo protocolo. Entretanto, no dia seguinte, verifica junto à assistente social se o pedido de concessão do aparelho foi encaminhado ao serviço público de saúde. Sabendo que não, telefona para o setor da prefeitura que cuida do assunto, explicando que a falta de um simples aparelho está causando a ocupação de um leito hospitalar que poderia ser utilizado por alguém com uma doença mais grave. Não satisfeito, volta para a assistente social e diz o que fez, pedindo a ela que insista no processo. Na manhã seguinte, visita novamente o doente para acompanhar a sua evolução e cobra da assistente social a resposta. Ao fim de quatro dias o aparelho é entregue à família e o paciente recebe alta e volta para casa. Este médico, sim, cumpriu o seu papel.
Vamos transpor a situação para uma corporação empresarial qualquer. Nenhum líder se contenta com o profissional que apenas cumpre o protocolo, que apenas segue a rotina. O profissional que as empresas procuram é aquele que acompanha o processo, identifica entraves e obstáculos procurando resolvê-los. Se não conseguir, pede auxílio até que a questão seja solucionada. Este é um profissional multitarefa, que não se limita nem se restringe a cumprir ordens ou a fazer exclusivamente aquilo para o que foi contratado.
O profissional multitarefa tem algumas qualidades que deveriam ser típicas de qualquer profissional: proativo, prestativo, solidário, não tem preguiça, não é conformado e não foge dos problemas. Precisa estar antenado com novas práticas, novas tecnologias e novos sistemas que permitam atuar com agilidade e eficiência.
Mas, cuidado! Para ser um trabalhador multitarefa, o profissional precisa saber perfeitamente como fazer a gestão de seu tempo, sob pena de perder o foco da função e se intrometer na função alheia. Precisa também ser firme para impedir que a inércia dos colegas não lhe cause transtornos na execução da sua tarefa.
Consultamos uma pesquisa realizada pela professora e pesquisadora norte-americana Keri Stephens, cujo perfil pode ser visitado no site da Universidade do Texas¹, em Austin, nos Estados Unidos, que acompanhou 63 alunos da instituição onde leciona para concluir que as pessoas lidam com o trabalho de três maneiras bem distintas. Há quem só consiga fazer uma única atividade, os considerados monotarefa – para esses, pode ser interessante delegar tarefas específicas, como as relacionadas com a conferência de dados ou pesquisas que requerem concentração total. Já o maior grupo, segundo Keri, é formado por aqueles que conseguem fazer múltiplas tarefas, desde que seja uma de cada vez – são 45% do total, e o seu processo de trabalho é chamado de multitarefa sequencial. Destes, esperamos maior análise, planejamento e decisões estratégicas. Por fim, o grupo percentualmente mais reduzido, são aqueles que conseguem fazer várias coisas ao mesmo tempo, são os multitarefas simultâneos.
Conheço jornalistas que, dentro de uma redação, escrevem uma reportagem enquanto ouvem a transmissão do Jornal Nacional, verificam as atualizações da Internet e se mantêm antenados nas conversas ao seu redor. Presenciei também professores e palestrantes que, durante a apresentação, verificam o comportamento de cada um dos ouvintes, pesquisam dados em um notebook e fazem anotações.
É verdade que os profissionais multitarefas – sequenciais ou simultâneos – estão na mira dos recrutadores. E ser multitarefa não é questão de treinamento, mas de estilo. Há oportunidades para variados perfis em diferentes tipos de emprego e de empresa. O que não se pode fazer é fingir ser um profissional multitarefa se não existir tendência para isso. Ainda que você identifique seu perfil, é importante entender como reagir às demandas variadas ao longo da carreira. Cada tipo de profissional tem seu lugar no mercado de trabalho. Então, trate de se conhecer, insista, tente mais e faça o melhor que puder, seja qual for o seu estilo.
*Norberto Chadad é Engenheiro Metalurgista pela Universidade Mackenzie, Mestre em Alumínio pela Escola Politécnica, Economista pela FGV, Master em Business Administration pela Los Angeles University, CEO da Thomas Case & Associados e Fit RH Consulting, e tem “Paixão por Pessoas”.