As tendências tecnológicas geradas pelas novas gerações e o cenário econômico do País forçam o mercado segurador a repensar a oferta de produtos e análise de riscos. O processo regulatório e a estratégia de gestão também são desafios.

De acordo com o sócio da consultoria de inovação IXL Center, Hitendra Patel, apesar do otimismo ante o momento de crise, as seguradoras brasileiras precisam estar preparadas para interpretar os processos tecnológicos de forma diferente da atual.

“O importante é entender o real problema dos consumidores e saber que não adianta derrubar o preço dos produtos. A questão não é somente financeira, mas de confiança”, identificou o consultor em palestra na conferência Inovação Disruptiva, realizada ontem, pela Zurich, no Guarujá (SP).

Ele ainda destaca que a nova geração, chamada de millennials já está fazendo a diferença na indústria de seguros e ditando novos costumes e tendências para o segmento. “É preciso pensar sobre isso, porque tudo funciona de um jeito novo e diferente. As novas tecnologias e as formas com a qual os millennials já escolhem e traçam o caminho do mercado farão com que todos os setores sofram uma transformação. O problema é que precisamos de novas formas de raciocínio para pensar profundamente no futuro e tentar ter um preparo para as surpresas inevitáveis que virão”, complementa. Os executivos ainda ressaltam que novos aplicativos – como Uber e Airbnb -, tiveram um forte crescimento em um curto e médio prazo e que, nessa linha, revolucionaram indústrias hoteleiras e de transportes, que, por sua vez, viram-se obrigadas a inovar. Eles completam ainda que, dentro do setor de seguros, é difícil prever situações de risco que podem surgir de novas tecnologias, como de um carro que se dirige sozinho, por exemplo, algo que já ocorre nos Estados Unidos.

Para o superintendente da área de engenharia de risco da Zurich, Carlos Cortes, muitas empresas podem falir e desaparecer caso deixem de acompanhar o surgimento de novas propostas no segmento.

No setor de seguros, mais do que simplesmente mudar a direção de seus produtos para uma abrangência mais tecnológica, conseguir fazer seus clientes corporativos entenderem e aderirem o segmento de cyber riscos pode ser um dos desafios a serem enfrentados.

“A maioria das empresas acha que está protegida quando se trata de cyber riscos e acaba fazendo gestão de risco focada no mercado atual e isso é algo que preocupa, uma vez que estamos em um momento de transição. Assim como existem infinitas possibilidades, é preciso tentar antecipar todos os riscos que podem surgir nesse novo cenário”, explica o executivo da seguradora.

O superintendente da Zurich ainda destaca que a expectativa é que, nos próximos anos, mais de 50 bilhões de dispositivos estejam conectados no ambiente tecnológico. “O mercado segurador já está se preparando para as novas tendências e em cerca de três anos já deve mostrar produtos integrados”, completa Cortes.

‘Métricas anti-inovação’

Para o CEO do Innovators, André Monteiro, outro obstáculo a ser superado será a quebra de “métricas anti-inovação” de grandes companhias na hora de oferecer seguros voltados para a nova era tecnológica.

“Essa métrica significa ter maior foco em retorno sobre capital, favorecendo redução de custo e aumento da produtividade e é preciso uma mudança”, explica Monteiro.

“O momento é fazer a empresa perceber que a liderança não é mais dela, mas de uma indústria que está deixando de existir e isso, inclusive, é preciso existir dentro do próprio mercado segurador, onde players gladiam entre si, buscando diferenciais de negócio que não fazem mais a diferença em um mercado que já está se transformando”, completa.

Os executivos também reforçam que, apesar do preparo da indústria seguradora, as normas regulatórias brasileiras podem ser um empecilho, além da dificuldade na aderência de novos produtos ante momento de dificuldade orçamentária nas companhias.

“Muitas empresas estão com laudo financeiro ruim e, se não estão cortando coberturas, têm dificuldades de colocar novos produtos no orçamento, o que deixa um momento bastante difícil para o mercado segurador”, afirma Caio Timbó, sócio da corretora LTseg.

Ele ressalta que, nesse ambiente de dificuldades e da necessidade de inovações disruptivas nos setores de seguros, é preciso uma “pressão maior” nos órgãos regulatórios.

“Se várias corretoras, seguradoras, confederações e associações do segmento se unirem e pressionarem esses órgãos por mais agilidade e comprometimento, talvez seja mais fácil de abrir e trilhar esse novo caminho que está por vir”, conclui Timbó.

Fonte: DCI (Via Capitolio Consulting)

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