Para os principais players do setor, o futuro da corretagem de seguros em Portugal passará, forçosamente, por ajustar soluções, não só à competitividade que impera entre as empresas, mas também às exigências do mundo digital.

Os corretores de seguros registaram, em 2015, um volume de negócios total de 113 milhões de euros, mais 1,8% do que no ano anterior, segundo o estudo “Corretores de Seguros” da Informa D&B. Este valor vem confirmar a tendência já registada no ano anterior (1,9%).

Em 2014, o volume de prémios de seguros mediados pelos corretores cresceu 2,2% para 794 milhões de euros, um valor longe do máximo de 883 milhões contabilizados em 2008. A maior parte destes prémios (87%) corresponde a seguros de não vida. Sobre a penetração dos corretores no mercado, nesse exercício, situou-se em 5,6%, percentagem inferior aos 6% de 2013 e 7,1% de 2012. A sua participação sobre o volume total de prémios no ramo não vida foi de 17,9%, enquanto no vida foi apenas de 1%.

Neste estudo, evidencia-se ainda  o facto de o número de corretores ter vindo a recuar nos últimos anos: em 2014, eram 77, menos cinco do que no ano anterior e menos 16 do que em 2011. Cerca de 70% emprega menos de dez pessoas e só 14% revela empregar mais de 30. Do ponto de vista geográfico, o distrito de Lisboa concentra 37 empresas que representam 48% do total. Já o distrito do Porto concentra 20 empresas.

Desafios vs profissionalismo

Para a SABSEG, os grandes desafios da atualidade são as alterações induzidas pela alteração do comportamento dos clientes devido à evolução para um contexto cada vez mais digital.

“Porém este facto é simultaneamente uma oportunidade, pois induz a uma transformação que torna as empresas de corretagem mais eficientes e mais inovadoras”, defende a corretora.

Sobre o mercado nacional, acrescenta ainda que se vive um momento de “grande concorrência, com nível de profissionalismo cada vez maior”. Na perspetiva da SABSEG, também as companhias de seguro estão a viver uma fase de transformação. Nos últimos três anos, mais de 50% de quota de mercado no ramo não vida mudou de acionista. “Após a fase de estabilização, contamos com um mercado forte e inovador”, conclui.

Também questionado sobre os desafios que se colocam aos corretores, Pedro Penalva, CEO da Aon defende que passam pela capacidade de continuamente acrescentar valor, sendo que, no caso da AON, isto se traduz na forma como apoia a gestão de riscos e também nas soluções de saúde, benefícios, reforma e talento dos seus clientes. “Riscos e pessoas fazem, hoje, parte da agenda corporativa das organizações e o objetivo é capacitar os clientes nestas duas dimensões e garantir que desenvolvem uma estratégia que lhes configura uma vantagem competitiva no mercado”, reforça Pedro Penalva, sem deixar de sublinhar que o mercado segurador ainda vive um período de turbulência motivado por resultados técnicos negativos, impacto das baixas taxas de juro nos resultados financeiros e pelas profundas alterações acionistas dos últimos anos. “O foco na inovação, no ir ao encontro das verdadeiras necessidades dos clientes, na digitalização e na eficiência e otimização de processos serão fundamentais”, conclui.

Transparência para atingir a consolidação

Na perspetiva de Rodrigo Simões de Almeida, country manager da Marsh Portugal, os grandes desafios para os corretores “são também as grandes oportunidades”. Em seu entender, estes passam por responder às exigências do mercado (cada vez maiores) no que, por exemplo, diz respeito à transparência. “Ressalte-se, que o mercado segurador está a enfrentar uma fase de concentração, do qual os corretores não são exceção”, frisou ainda. O responsável aponta também, como grande desafio/oportunidade, a aposta na diferenciação dos serviços. “Temos assistido, nos últimos anos, à redução do número de corretores, tendência que considero que vai manter-se. Por outro lado, as empresas estão mais confiantes na retoma económica e mais alerta para os riscos. Assim, procuram, cada vez mais, um parceiro para garantir uma boa gestão de riscos através de uma assertiva identificação e quantificação e posterior mitigação através de sistemas de controlo e programa de seguros adequados às suas necessidades”, remata.

Já na visão de Nuno Arruda, diretor comercial da Willis Towers Watson, em matéria de desafios importa distinguir os exógenos e endógenos. “Primeiro, os que decorrem de aspetos conjunturais: por um lado, o mercado segurador mantém uma tendência de consolidação, reduzindo-se consequentemente o número de companhias, o que se traduz numa redução da oferta; por outro, o contexto económico do país e uma retoma que tarda em materializar-

-se, com implicações evidentes  para os clientes – necessidade de otimização de recursos físicos e humanos, internacionalização, novos riscos (por exemplo, decorrentes da evolução tecnológica; regulatória)”. Para o responsável, estes desafios externos implicam inevitavelmente desafios internos: a adaptação da estrutura humana e tecnológica, assim como uma “eventual  evolução cultural em função de um mercado que deve adaptar-se para manter a sua relevância (e sobreviver)”. Sobre o mercado, dá ainda nota de que os corretores procuram ajustar a oferta à evolução da procura, num mercado segurador mais consolidado “onde se começa a verificar alguma inflexão (em alta) no ciclo de preços (fruto da Solvência II e pressão regulatória), a importância da captação e retenção de talento, e o cada vez mais preponderante peso da gestão de risco como alicerce de boa governação”, conclui.

Otimismo marca o ritmo

Neste contexto, importa ainda aferir como perspetivam estes players o futuro da atividade, a curto prazo.

Para a SABSEG, as expectativas são de forte inovação nos próximos anos, induzida essencialmente pela introdução de soluções tecnológicas, a denominada “internet das coisas”, no apoio à prevenção e gestão do risco. “É um processo de transformação da sociedade no qual o setor dos seguros, enquanto prevenção e proteção dos riscos das empresas e dos particulares, vai ter um papel muito ativo”, reforça a corretora.

Por seu turno, Pedro Penalva, CEO da Aon, salienta que, atendendo aos desafios de internacionalização e competitividade, e à necessidade das empresas de garantirem a sua rentabilidade, crescimento e mesmo sobrevivência, através da competência na gestão dos seus riscos e das suas pessoas, olham o futuro da atividade em Portugal de uma forma “muito otimista”.

Também Rodrigo Simões de Almeida, country manager da Marsh Portugal, considera que, a curto prazo, a evolução da atividade passa por ser “mais transparente e capaz de responder à cada vez maior exigência dos clientes”. O responsável salienta ainda que o mercado está a mudar e isso obriga a uma adaptação que leva a que estas empresas sejam mais do que corretores de seguros e sejam também consultores de riscos, que ajudam a implementar soluções que não se limitam ao mercado segurador.

Já Nuno Arruda, diretor comercial da Willis Towers Watson, defende que, naturalmente, nem todos os corretores terão a capacidade de responder da mesma forma aos desafios que se colocam à atividade. “Uma maior profissionalização do mercado é essencial e é possível que se venha a verificar alguma especialização em determinados nichos, assim como uma mais evidente segmentação em termos de mercados alvo (carteiras mais pulverizadas e PME versus médias/grandes empresas)”. Em sua opinião, não será surpreendente se o mercado de corretores acompanhar a tendência de consolidação do mercado segurador. “Enfrentamos o futuro próximo com muito otimismo e entendemos que o papel do corretor/consultor não se pode esgotar na negociação de prémios de seguros mas deve evoluir como apoio estruturante à estratégia dos clientes, acrescentado valor de forma profissional e transparente”, conclui.

Por Sónia Bexiga/OJE

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