Já parou para pensar na relação entre sofrimento e prazer? E essa relação na atividade dos empresários do setor de seguros no exercício da sua atividade profissional? Esse foi o tema do estudo realizado pela administradora de empresas Cláudia Helena Oliveira de Souto para obter o título de Mestre em Psicologia Social pela Universidade Federal da Paraíba. A sua dissertação, que foi defendida no dia 23 de março deste ano, teve a orientação do Prof. Dr. Paulo César Zambroni de Souza, e utilizou como aporte teórico a Psicodinâmica do Trabalho de Christophe Dejours.
Por ser corretora de seguros e também por ser filha de corretor de seguros, Cláudia conhece bem as pressões desta profissão. “Não só da atividade de corretagem de seguros em si que nos exige uma disponibilidade muito grande para com o nosso cliente, mas também de toda a responsabilidade que temos em ter que administrar da melhor forma possível a nossa empresa”, diz ela.
A corretora diz ter escolhido este tema para chamar a atenção dos estudiosos do trabalho para os sofrimentos e patologias que acometem os empresários corretores de seguros em virtude da sua atividade laboral. “Quando falamos das doenças ou dos sofrimentos que são adquiridos na atividade de trabalho, há uma tendência em voltarmos a nossa atenção para o grupo dos trabalhadores, dos empregados, e não nos damos conta de que a atividade empresarial também faz sofrer e adoecer o empresário, assim como mobiliza muito intensamente a sua família”, justifica.
O principal objetivo desse estudo foi compreender como se configure a dinâmica psíquica dos empresários corretores de seguros diante das dificuldades do dia a dia de trabalho. Para isso ela conta que analisou como eles se organizam para enfrentar os problemas inerentes a esta profissão e também dos recursos que utilizam para manter-se no campo da normalidade e não adoecer (o que nem sempre é possível). Além disso, Cláudia procurou saber sobre as formas de reconhecimento ou a falta dele que os corretores recebem dos clientes, de outros corretores, dos funcionários. “Procurei investigar também o equilíbrio que ele consegue, ou não, ter entre as atividades demandadas pela sua empresa e pela sua vida particular, incluindo aí, a família”, completa.
Como foi realizado este estudo?
Para realizar este estudo, Cláudia fez uma pesquisa do tipo qualitativa junto aos empresários do setor de seguros que atuam na cidade de João Pessoa (PB) e que atendiam alguns pré-requisitos: terem no mínimo cinco anos de experiência na atividade empresarial, serem responsáveis pela administração de suas empresas, terem no mínimo cinco funcionários e serem corretores oficiais de seguros, devidamente habilitados pela SUSEP. As entrevistas aconteceram em abril de 2016.
A pesquisa revelou quatro grandes categorias que envolvem o corretor de seguro. Veja:
O coletivo de profissão: Nesta categoria estudada, evidenciou-se como se dá a formação de coletivos de profissão por parte dos empresários para poderem superar as dificuldades e os desafios de sua atividade, ao lado do trabalho solitário do empresário que não tem sócios;
A busca pela saúde: Nesta categoria revelou se as patologias que foram adquiridas pelo empresário em virtude de sua atividade laboral e toda a mobilização subjetiva que é realizada por ele, para transformar o sofrimento sentido em seu trabalho em prazer;
O reconhecimento: Esta categoria investigou como ocorre o reconhecimento na atividade empresarial, já que o empresário não tem um superior que o avalie e que o reconheça. Descobri que, mesmo concorrendo entre si, os empresários acabam se ajudando, dialogam sobre os problemas, o que traz reconhecimento de um pelo outro. Também os representantes das seguradoras exercem um papel importante para a obtenção desse reconhecimento;
A família: Esta categoria foi bastante reveladora, na medida em que traz à tona todos os dilemas que o empresário tem ao tentar equilibrar o tempo dedicado a família a e sua empresa. Revela se aqui uma relação não só de interferência da empresa na família, mas sim, de pertencimento, na qual família e empresa formam uma unidade indissolúvel, com tudo o que há de positivo ou de problemático na vida empresarial.
Cláudia disse que este estudo é bastante revelador para o mercado de seguros porque indica a realidade de sofrimentos e as doenças que atingem o empresário corretor de seguros em virtude da sua atividade laboral. “Além de ter que dar conta das demandas inerentes da profissão, o corretor também tem a responsabilidade de administrar a sua empresa e fazer com que ela dê certo perante os seus funcionários, clientes, fornecedores (seguradoras) e suas famílias”, afirmou.
Ela acrescenta que, toda pesquisa científica é válida, na medida em que procura revelar fatos que muitas vezes passam despercebidos pelo senso comum. “No caso desta pesquisa, em particular, revelou-se uma realidade que até então não era considerada, nem no ramo empresarial, nem no ramo específico dos corretores de seguros”, revela. Por conta disso, ela acredita que este trabalho possa contribuir para que o corretor de seguros possa ressignificar a sua atividade laboral, tentando encontrar o equilíbrio entre os sofrimentos e os prazeres desta profissão, para que no futuro, não se sinta culpado em ter aberto mão da sua saúde em prol da prosperidade das suas empresas.