A discussão já ronda o segmento desde 2016 e o assunto ainda tem ressalvas e desaprovação de corretores. A Susep, porém, afirma que o tema é prioridade na lista de medidas a serem avaliadas

A Superintendência de Seguros Privados deixará a regulamentação para a compra e venda de seguros Peer to Peer (P2P) apenas para 2019. O processo, porém, viria como prioridade em uma lista de medidas a serem analisadas pelo órgão fiscalizador.

De acordo com o superintendente da Susep, Joaquim Mendanha de Ataídes, a comissão de inovação do órgão responsável pela análise do processo P2P no mercado segurador “já colocou algumas ações em prática” no setor.

“Já temos algumas empresas no mercado marginal utilizando o P2P na área de conduta e estamos praticando o processo para entender sua estrutura. Mas de qualquer forma, é preciso ter cuidado na inovação”, afirmou o executivo em evento realizado ontem, pelo Centro de Qualificação do Corretor de Seguros (CQCS), em São Paulo.

Peer to Peer (ponto a ponto, em inglês), nesse sentido, teria como objetivo aproximar grupos de pessoas que desejam comprar seguros de investidores que aceitariam bancar esse risco – equivalente aos financiamentos P2P (ou P2P lending), onde todo o processo é feito por meios digitais e a presença do intermediador é desnecessária e, assim, descartada.

As discussões acerca do modelo já preenchem o setor de seguros no País desde 2016, quando a Caixa Seguradora trouxe a Youse – plataforma de vendas online de seguros – como a primeira insurtech (fintech de seguros) brasileira e encarou, pouco tempo depois, uma liminar que proibia a venda de produtos, feita a pedido da Federação Nacional dos Corretores de Seguros (Fenacor).

Na época, a justiça derrubou a liminar e a discussão evoluiu de forma que, em março deste ano, a Susep publicou no Diário Oficial da União (DOU) a autorização para a operação digital da plataforma Youse.

Ao DCI, Ataídes reforçou que o assunto é “prioridade na lista de medidas a serem analisadas” e que uma reunião será feita com a comissão de inovação da Susep na semana do dia 13, mas que ainda não devem haver novidades sobre o assunto ainda neste ano.

“Estamos tentando acelerar todos os processos e avaliações, mas acho difícil conseguirmos trazer algo ainda neste ano. Em 2019 é mais provável”, afirmou o executivo.

Tendências tecnológicas

Além disso, outras medidas que dizem respeito à inovação digital no mercado de seguros também devem ganhar destaque no setor nos próximos meses. De acordo com especialistas, a exemplo do que tem acontecido na Europa, o conceito de insurtech deve ser mais “inserido” no sistema financeiro, com revisões regulatórias e novos produtos – mais flexíveis e transparentes.

Segundo o presidente da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) de Portugal, José Antonio Figueiredo Almaça, todas as mudanças trazidas pelas insurtechs ao mercado “se apresentam como uma oportunidade”.

“De um lado, temos produtos mais flexíveis e transparentes, com consumidores adaptando os seguros aos seus hábitos com meios de distribuição mais rápidos e com boas práticas. De outro, porém, temos a necessidade de agilizar as tomadas de decisão e de adaptar nossos produtos à era da digitalização”, avalia.

Para o diretor presidente do Bradesco Vida e Previdência, Jorge Nasser, porém, o desafio é “tentar preservar a longevidade sustentável dos modelos tradicionais” em meio aos processos de inovação.

“Às vezes essa evolução pode parecer mais rápida do que a nossa capacidade de resolvê-la e de adaptá-la, mas é preciso enxergar o quanto a inovação se faz necessária e agrega valor para o negócio e para o cliente”, comenta.

A discussão ainda se estende para o lado do papel do corretor de seguros no sistema.

“A projeção é de que em 10 anos, teremos só metade do número de corretores que temos hoje. Há espaço para que esse profissional se automatize, mas é preciso adaptação e investimento para conhecer essas novas tecnologias”, disse o presidente do Insuretech Connect, Caribou Honig.

“A intervenção humana sempre será necessária, principalmente para facilitar a inclusão financeira desses serviços”, acrescenta Almaça. “A linha de ação precisa ser de avaliar a regulação já existente e garantir espaço para as inovações tecnológicas no sistema”, disse.

Quanto ao mercado brasileiro, o superintendente da Susep declara que todos os órgãos responsáveis pelo setor “trabalham para inserir a inovação”.

“Uma das principais preocupações é em relação ao excesso de regulações e entendemos que ainda há muito a ser feito. Precisamos ser diferentes, mas com responsabilidade”, diz.

“Por isso, o desafio é achar o equilíbrio entre acessibilidade e conhecimento para que realmente haja a velocidade de inovação que o segmento precisa”, conclui Ataídes.

 

Escrito ou enviado por ISABELA BOLZANI • SÃO PAULO

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